Biblioteca

Depois de sair da sala das necessidades fui à biblioteca. Estava em pânico ainda com aquilo que me acabara de acontecer e já não sabia para onde me virar. Mas aquela voz chamara-me algo que eu já ouvira antes: Anguisette. O nome não me era estranho, mas eu não me lembrava de onde o tinha ouvido. Fui para um corredor mais afastado e ao passar vi a Ashley e o meu afilhado, Tiago, entretidos com algo.

Acenei-lhes forçando um sorriso e fui procurar o que me interessava: Crenças Antigas, Rituais da Antiguidade Clássica, Costumes e Regras de Salão da Nobreza Antiga. Não sei porque fui buscar isto, mas, mais uma vez, o meu instinto dizia-me que encontraria ali as respostas de que precisava para as minhas perguntas confusas.

Abri um dos livros: Crenças Antigas. Procurei durante algumas páginas mas não encontrei nada de interessante excepto pequenas histórias sobre antigos deuses que devoravam quem não lhes obedecesse. Verdade seja dita, aquilo assustou-me! Eram imagens horríveis, ainda mais assustadoras de tão canibalescas que eram. E depois parei numa das páginas com uma imagem que me cativou: representava a raça humana, tinha muitas pessoas em jeito de adoração a algo que era invisível, humanamente falando, mas que estava lá definitivamente; as pessoas estavam nuas e quase que me deu a ideia de ser uma orgia, mas depois reparei que, embora houvesse cariz sexual ali, havia muita beleza em todo o corpo humano que ele representava, deu-me mais a sensação de o objectivo ser mostrar a beleza do amor e não do corpo humano em si. E depois, as páginas seguintes enchiam-se com uma história, da qual memorizei algumas partes, e passou a fazer sentido para mim:

Depois de ler esta passagem entrei em choque. Eu não queria acreditar naquilo que li, podia ser só um mito antigo, mas algo me dizia que não era. Seria possível que eu fosse uma delas? Não... Elas estavam extintas há séculos! Levantei-me, ignorando os outros livros que tinha tirado e fui à procura de outro, encontrando algo que podia ajudar: Antigos Deuses e Mitos Clássicos. Sentei-me de novo e procurei no índice: encontrei de novo uma passagem sobre Elua e depois encontrei: Kushiel e ensinamentos. Abri nessa parte:

Parei nesta parte. Masoquismo?! Ok, agora eu estava assustada, eu sabia que gostava de algumas coisas estranhas e que... Bem... Que havia coisas estranhas a acontecer comigo mas eu não queria ser como elas! Com medo, continuei com a ler:

Abaixo desta passagem estava uma imagem da Tatuagem que elas faziam. Fiquei fascinada a olhar e passei a ponta do dedo por ela. Assim que lá passei o dedo senti a minha pele arder, era um ardor bom, fortalecedor mas que eu sabia que magoaria outra pessoas que não eu a toca-lo.

Fechei o livro. Já sabia tudo aquilo de que precisava, e se calhar até mais do que aquilo que queria. E agora? Afinal eu era uma delas, passados tantos séculos? Aquilo que se passou na sala das necessidades assustou-me mas ao mesmo tempo parecia-se certo. Uma coisa era certa: eu não ia dispor esta "habilidade" como os ensinamentos de Kushiel chamavam, so serviço de ninguém! Era só o que me faltava! Se naquele tempo era visto como uma coisa rara e especial, actualmente era visto como uma esquisitice. E eu queria ser normal! Deixei-me ainda ali na mesa um tempo, a ver as imagens sobre Kushiel, Elua e as Anguisettes que havia. Algumas eram assustadoras pelo que elas suportavam.

Como sempre peguei minhas coisas e as 9h em ponto abri a biblioteca. Entrei devagar e fui ate minha mesa. Coloquei minha bolsa de lado e pendurei meu casaco na cadeira e me senta na mesma. Comecei a fazer umas anotações e em seguida comecei a ler um livro. Depois alguns alunos entraram na biblioteca e eu fiquei a observa-los.

Observei quando uma professora entrou na biblioteca. Me levantei e fiquei a observando. Esperaria ela vim falar comigo. Apesar de eu ter apenas 18 anos e ver e ouvir melhor que os humanos. Alguns achavam que eu era velha. Eles não sabiam que a bibliotecária havia mudado. Ouvi muito bem quando a professora resmungou. Preferi ficar calada, não queria encrenca na minha primeira semana de trabalho.