Casa Do Barco

Acenei com a cabeça.

- Sabes, acho que tens razão. Não é que eu não goste da tua mãe, mas desta vez eu vejo mais o lado do Guilherme. Ele está farto de sofrer...

Não me prolonguei mais na conversa sobre isto. Queria que fosse ele a desabafar e eu só ia fazendo alguns comentários. Já lhe tinha dado a minha opinião, e achava que eu não ia conseguir fazer grande coisa. Mas iria sempre apoia-lo, mais que não fosse fisicamente, estar perto dele e abraça-lo quando ele precisasse. Sebem que ele agora tinha a maravilhosa da Ritinha das meias sexys para lhe dar outros tipos de apoios. Mas não referi a minha opinião quanto a isso, como é óbvio, a menos que fosse para eu começar já a chamar-lhe vaca.

- Sim, nota-se que eles foram feitos um para o outro e, para ser sincera, eu acho que tu tens muito mais do Guilherme do que do teu pai. E já reparei que lhe chamas pai muitas vezes, acho isso giro. Sempre me lembro de tu adorares o Guilherme.

Sorri um pouco e depois fiquei a pensar naquilo que ele disse, mas em relação a mim própria. Fitei o lago, a pensar, e tentei fazer uma expressão natural, apenas inquisidora.

- Achas que ele vai perdoar a tua mãe? Se ela for a correr para ele? Quer dizer, apesar de tanta coisa que, pelo que tu dizes, ela fez?

Não o olhei, não consegui, porque apenas estava a usar nomes diferentes para a minha situação e, por outro lado, porque tinha medo que este assunto da mãe lhe fosse cada vez mais sensível.

- Sim, talvez...

Percebi que ele estava a falar do Guilherme, e não dele, o que significava que não, ele não iria perdoar-me.

- Mas eles ama-se, vão voltar um para o outro de certeza.

Olhei-o, sorri um pouco como que a encoraja-lo para acreditar nisso e voltei a fitar o lago. Dava-me vontade de me atirar lá para dentro e de ver se aguentava vinte minutos lá debaixo, o que não aguentava. -.-

Ri levemente, continuando a olhar o lago.

- Eu acho que eles fazem um casal bonito. Sempre animados e andam sempre agarrados por muita coisa que haja no meio.

Sorri um pouco enquanto continuava a fazer pequenos desenhos com um pauzinho no chão. Um dia ele iria perdoar-me. Não íamos voltar a namorar, mas pelo menos eu ia ficar com o meu coração colado, embora nunca mais na minha vida ele ficasse inteiro outra vez.

Fiquei surpresa quando ele fez aquilo. Vieram-me logo lágrimas aos olhos mas correspondi àquele beijo que eu achei que nunca mais ia acontecer.

Não conseguia parar as lágrimas. Eu amava-o e tinha estragado tudo... Tudo! Deixei-o puxar-me até ficar colada nele sem parar de beija-lo. Tinha saudades, muitas mesmo, de o sentir assim agarradinho a mim.

Olhei-o completamente em pânico e a tremer toda. E chorei ainda mais.

- Eu... Eu... Eu...

Ele queria voltar ao castelo! Oh boa, Zoey! Mais uma vez se tivesses ficado quieta tinhas feito melhor.

- Desculpa, Tiago!

Fiquei a ve-lo ir embora com os olhos muito abertos. Eu tinha abusado, não nos devíamos ter beijado se calhar, e mais uma vez pensei na mensagem que ele me mandou e fiquei ainda pior. Levantei-me e fui para o meu dormitório depois de lhe mandar uma mensagem.

A escola da minha avó era mesmo espectacular! Adorava passear por aqui.

- Quando eu for um grande Rei... Ninguém me vencerááá! E a juba que eu vou ter vais ver... Será de arrazaaar!!

Enquanto cantava a música do Rei Leão, que era o meu filme preferido dos desenhos animados, pus-me com umas folhas grandes à volta da cabeça, a fingir que era uma juba!

Não estava ali ninguém, portanto... Podia!

Ultimamente eu e o Mason não passávamos quase tempo nenhum juntos. Ele andava super ocupado com o trabalho dele e entre fazer gravações, viajar de um lado para o outro e as sessões de autógrafos com fãs histéricas, o tempo para estar comigo era mais reduzido. Eu não me importava, desde que os filhos não sentissem a falta dele.

Ele dedicava-lhes todo o tempo que podia e eu ficava grata por isso. Mas quanto a nós, sentia um como se um enorme buraco se começasse a abrir no meio, afastando-nos. As pessoas dizem que isso acontece em todos os casamentos, mas eu não esperava que isso acontecesse com o meu. Eu amava o Mason, se possível, cada dia mais e mais, restava-me saber se ele também ainda sentia o mesmo.

- Cuidado, Joana...

Hoje tinha ido levar os gémeos à escola mas a minha princesa quis ficar com a mamã. Então, depois de a vestir, levei-a até à escola. Ela adorava ir lá, olhava para tudo curiosa e divertida, rindo-se com tudo à sua volta. Fui com ela até às escadas que conduziam à casa do barco, indo até à margem do Lago.

- Não vás para ali, bebé.

Pu-la no chão com cuidado, para ela gatinhar e até dar uns passinhos, incertos. Deixei-a ir até um barco, explorando devagarinho ao ritmo dela, e ia conversando com ela. Ela olhava para mim com aquele olhar divertido e traquina e fazia sons em resposta às minhas falas.

Os gémeos eram iguaizinhos ao pai deles, quando era pequeno, fisicamente e também de personalidade, mas esta, a minha princesa, era igual a mim: era mais sossegada e, no entanto, espevitada, tinha os meus olhos, iguaizinhos, que fitavam tudo com um olhar maravilhado e fascinado. Também tinha as mesmas formas de rosto que eu: pequenas e delicadas, com o nariz ligeiramente arrebitado e um sorriso sempre lá depositado. Hoje eu tinha-lhe prendido o cabelo atrás e lembrei-me que devia ir furar-lhe as orelhas para por uns brinquinhos.

Enquanto ela brincava e eu falava com ela, deixei-me sentada com os braços à volta das pernas. Dava olhadelas ao Lago e a ela ao mesmo tempo, eu gostava sempre de ser vigilante com os meus filhos, e ia pensando na minha vida como estava agora: a pensar se a sensação de vazio não passava de impressão minha. Talvez o Mason só estivesse demasiado ocupado para mim, talvez eu estivesse a exagerar.

A minha cabeça dizia-me que eu não devia preocupar-me, que ele só estava ocupado com trabalho, mas o meu coração dizia-me que talvez fosse mais que isso: talvez ele já não me amasse tanto como dantes. Sentia falta do carinho dele, do ouvir dizer que me amava seguido de um beijo apaixonado, de ter um dia para passear com ele. Já nem me lembrava da última vez que tínhamos tido uma noite romântica, uma só para nós, sozinhos. Eu não queria incomodá-lo com isto, sabia que a carreira dele era importante, e não ia dizer-lhe nada, mas aos poucos sentia-me cada vez mais longe dele.

Assim que ouvi a voz dele, o meu coração até deu um salto.

- Amor! Estava mesmo a pensar em ti, bebé.

Era óbvio que eu não lhe ia dizer o porque exactamente, mas não estava a mentir, cada vez estava mais apaixonada por ele e queria-o perto de mim. A pergunta dele foi engraçada, de forma irónica, dado que eu e ele havia dias em que nem sequer nos víamos.

- Não sabia que já cá estavas!

Eu estava a esconder uma enorme felicidade, como se mostra-la fosse a sentença para ele me dizer que tinha de ir embora.

Abanei a cabeça a sorrir, embora por dentro eu me sentisse tambem um pouco triste. Veio logo à minha cabeça o facto de se calhar eu lhe ter estragado os sonhos, de ele se prender a mim por uma família que começou com o Benjamin, e não consegui evitar pensar que se calhar ele eu estaria bloquear-lhe de novo essa vida de sonho que ele tinha.

- É o teu sonho, a tua carreira, tu precisas de faze-lo!

Não importava, ele estava ali, comigo e com a minha princesa, ia eu não ia dizer-lhe nada que o pusesse triste.

(oooh <3)

Sorri ainda mais quando ele disse aquilo. Ele era simplesmente a pessoa mais maravilhosa deste Mundo, não me imaginava com mais ninguém.

- Amo-te, sabes?

Abracei-o com força, permitindo-me o luxo de pensar que o tempo estava parado durante uns momentos. E depois beijei-o, num beijo apaixonado, o beijo que há minutos atrás eu estava a imaginar com saudades.